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Profissional ou funcional?

Calma. Vamos explicar. Comecemos por entender função. De um modo geral diz-se por aí que a função de um empregado está ligada às responsabilidades às quais o empregado foi designado no momento da contratação, ou seja, o seu cargo. É, em síntese, o conjunto de tarefas a serem realizadas as quais são impostas por força do contrato.
Bem, este é o modelo aceito em todos os cantos da gestão empresarial. Porém, há um uso inadequado, a menos ao meu ver, das palavras e conceitos envolvendo a distribuição de tarefas na sociedade como um todo. Ora, todos sabemos que o sistema econômico não passa de um sistema de trocas, onde um oferece ao outro algo do interesse deste em troca de algo de seu interesse, e que a moeda (dinheiro) surgiu apenas para organizar este sistema de trocas.


Ao longo da história fomos nos organizando e criando espaços e tarefas diversas, dos mais variados campos de interesse da humanidade, surgindo assim as funções, ou cargos, e as profissões que designam as tarefas de cada um no seio social. Um uso inadequado comum está no fato de chamar empregados de colaboradores. Parece um inocente jogo com a semântica, mas no fundo esconde falhas da relação trabalhista ou busca um maior comprometimento daqueles que não compreendem sua função.
Na prática quem trabalha para o empregador é empregado. Quem trabalha para o governo é funcionário (o correto é dizer funcionário do povo) e apenas quem trabalha nas instituições sem fins lucrativos é que são colaboradores. Para entender melhor reflita: o empregado executa ordens diretas do empregador, o funcionário executa ordens indiretas do povo, e o colaborador como o termo diz, colabora com a obra da entidade, ou seja, é um colaborador do propósito.


Muitas empresas já evoluíram e sabem que sua missão está além da sua responsabilidade social do lucro e conseguem atribuir e transmitir um propósito. Nestas, o empregado exemplar pode se tornar um colaborador da causa, porém continua empregado sob as regras do contrato.


Falemos agora sobre profissão. Qual a tua profissão? Também costuma-se dizer que profissão é o ofício especializado que legitima alguém a fazer alguma coisa, pode ser, ou não, o seu meio de vida. O que se conclui, então, que um profissional é aquele que é reconhecido por suas competências, responsabilidades e ética no seu campo de trabalho, sendo então o profissionalismo a chave para a construção de uma carreira de sucesso.
Bem, em vista do que já vimos até aqui, podemos perceber o que existe e o quanto ainda fazemos confusões com o uso dos termos e conceitos. Isto pode parecer inocente, mas por outro lado corrobora negativamente para com o entendimento de nossas responsabilidades sociais.


O próprio conceito de responsabilidade social é mal compreendido, como se pudéssemos terceirizar e delegar as empresas e governos o que na verdade é apenas nossa responsabilidade. Por ser comum ou compartilhado fica mais fácil a nossa esquiva ante a nossa responsabilidade. Acredito que a maior responsabilidade de cada um de nós seja exatamente entender quem somos e qual a nossa função na sociedade. Função vem do conceito de funcionar, entregar o resultado esperado. Ou funciona ou não serve. Existem apenas três funções básicas na sociedade: produção, controle e transformação.


Cabe às empresas e somente a elas a tarefa de produzir tudo aquilo que precisamos ou desejamos. São as empresas que devem produzir os impostos necessários à manutenção da nação, produzir emprego e renda para a população, produzir os bens necessários à vida. Produzir os efeitos benéficos no social, no ambiental, cultural, político e econômico no seu entorno. E cabe ainda às empresas produzirem o lucro para rentabilizar o capital, reinvestir nos negócios e premiar o risco do empreendedor.
Portanto, se você trabalha numa empresa, seja empregador ou empregado, sua função é produzir. Se você trabalha no governo, seja eleito ou funcionário, sua função é controlar as relações para favorecer o ambiente empresarial para que a nação prospere.


Agora, se você trabalha numa entidade, sua função é entender a sua missão e colaborar com a transformação da sociedade em prol da prosperidade humana. Assim, sua maior responsabilidade social é saber que além da tua profissão (competências), que além do seu cargo (responsabilidades), você tem que funcionar, ser funcional, fazer a sociedade funcionar, primeiro em você, depois de forma cooperativa colaborar para que tudo e todos funcionem. Muito além de um grande profissional, espero que você seja um grande funcional. O caminho existe. O caminho é ASSOCIAR. Vamos trilhar.

O autor é empresário com 30 anos de experiência em associativismo. Formado em Filosofia e Administração

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