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Para onde vamos?

Há algumas dezenas de milhares de anos, ou até centenas, nosso cérebro e nosso modo de ser era moldado por nossas necessidades básicas, a comida, a água, o sexo e a segurança. Este era o paraíso retratado na fábula do livro Gênesis da Bíblia Sagrada dos cristãos, pois a vida era simples e desprovida de preocupações com o dia seguinte.


Com o desenvolvimento da sapiência (a árvore do conhecimento segundo o mesmo livro Gênesis) nos trouxe a oportunidade de evoluir e entender o funcionamento de todas as coisas, e com ela preocupações que afetam a nossa paz (fim do paraíso, segundo Gênesis). Muitos mestres ao longo da história tentaram amenizar essa angústia. Zoroastro (660 Ac) disse: “colham as rosas hoje, porque amanhã serão apenas galhos”. Lá pelos anos 400 Ac, nos poemas líricos de Horácio apareceria o famoso adágio: “carpe diem, quam minimum credula postero”. Ouça o hoje, por menos que se possa acreditar no amanhã.


Na sequência aparecem nos Evangelhos o próprio Jesus exortando sobre as atribulações da mente. Disse ele: “olhai os lírios do campo e os pássaros dos céus, vivem o hoje sem se preocupar com o amanhã”. Lições à parte, a realidade é que nosso cérebro e nosso jeito de ser sempre se moldou pelo ambiente em que vivemos, por isso alguns especialistas afirmam que somos frutos do meio.


Já fomos hábeis caçadores e usávamos o olfato como poderosa ferramenta para obter comida ou se defender dos perigos. Hoje, onde jogamos diariamente toneladas de comida fora e estamos protegidos nas cidades, para quê serve o nariz? As habilidades exigidas atualmente vão na direção da matemática, da lógica, do discernimento e da descoberta de algoritmos. E se não bastasse, ainda somos vítimas da velocidade. Este é o ambiente que vem nos moldando, não mais lentamente como antes, mas rapidamente como as viagens interplanetárias exigem.

Há em curso, poucos percebem, uma nova neurose coletiva em curso. Estamos nos distanciando a uma velocidade incrível da nossa capacidade de relacionamentos. Por milhares de anos aprendemos a conviver e repartir nossas angústias, medos e ignorâncias. Hoje buscamos esconder estas atribulações num movimento de auto negação, criando assim uma neurose coletiva, onde não temos tempo de ouvir quem ainda persiste em querer viver neste modelo, dedicando-se apenas a mostrar nas redes um ser racional, superior sem defeitos para lacrar a qualquer custo.


Será que estamos acreditando, ou fomos levados a crer que o mundo virtual, o metaverso, será o paraíso que abdicamos quando optamos pela sapiência? O mundo da competição está nos levando a um isolamento social, no qual estamos perdendo a doce habilidade do relacionar, do descobrir juntos, do fazer juntos, do precisar de alguém. Esta autossuficiência trazida pelos avanços tecnológicos facilitam a existência, porém, com certeza vem apagando nossa capacidade de sonhar e amar, tornando os seres humanos em super seres produtivos e super capazes ao mesmo tempo que torna nossos dias mais cinzentos e sem sentido.
Segundo o Victor Frankl, neurose coletiva é exatamente isso. As neuroses coletivas são doenças próprias do ‘espírito de cada época’, consequentes da perda do sentido da vida das coletividades e da busca desenfreada por vontade de ‘poder’ e ‘prazer’, elementos que não preenchem os níveis exigidos pela vontade de sentido.


Como sempre, o famoso livre arbítrio está presente. Podemos nos tornar frutos deste meio ou sermos frutos de nossas decisões. A escolha é nossa. Ou a escolha é tua. O associar é uma proposta para se contrapor a competição e resgatar o valor da cooperação. O que você vai querer para a tua vida? O caminho existe. O caminho é ASSOCIAR. Vamos trilhar.

O autor Gilmar Denck é empresário com 30 anos de experiência em associativismo, formado em Filosofia e Administração.

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