Curiosidades de mercado: antes do Código do Consumidor era comum a prática de expor os devedores nas vitrines de lojas e mercearias. Era comum chegar em uma mercearia e ter uma vitrine cheia de cheques sem fundos e promissórias não quitadas expostas abertamente para que toda a comunidade soubesse do golpe aplicado pelo emissor contra o proprietário do estabelecimento.

Foi este movimento que propiciou o surgimento do SEPROC (atualmente SPC), referendado pelos empresários e mais fortalecido após o Código Consumidor que se tornou a única arma de cobrança do lojista. Mas veja que curioso: estava eu tomando café em um posto na rodovia quando chegou um caminhoneiro, abasteceu, e ao pagar olhava atentamente para um dos cheques entre os vários sem fundos expostos na vitrine daquele posto, ao qual ele exclamou mais ou menos assim: “não acredito, o meu compadre passando cheque sem fundos em postos, meu Deus eu não acredito”.

Veja que na época não havia celulares e fotos eram difíceis. Assim, ele, sem hesitar, fez a proposta: “se me vender este cheque do meu compadre, sem me cobrar juros, eu o compro”. O dono do posto não hesitou, retirou o referido cheque da vitrine com todo cuidado e entregou ao caminhoneiro, que mostrando uma alegria sarcástica, pagou o cheque sem fundos e o abastecimento com um cheque seu. O dono do posto, feliz por ter recebido um passivo que provavelmente nunca receberia, e o dono do caminhão, feliz porque estava com cheque do compadre nas mãos.

Bem, a história ‘felizes para sempre’ é conto de fadas, na vida real o cheque do caminhoneiro voltou sem fundos, e no lugar de um cheque sem fundos de R$ 200, naquele momento foi ocupado por um de R$ 400. Cômico se não tivesse sido verdadeiro e custado o suor do empresário que entre tantos riscos ainda enfrenta a volúpia dos espertos estelionatários. Precisa do crédito para vender, e quando tenta escapar do risco da inadimplência, cai na volúpia dos juros dos cartões, além de entregar a fidelização de seus clientes para as bandeiras. Esta é a vibe do comerciante.

Por isso precisamos buscar soluções inteligentes e assertivas para que possam continuar as suas atividades e continuar produzindo riquezas, impostos, emprego e renda para nossa nação. Olha que curioso como as emoções humanas definem o destino das pessoas. O empreendedorismo é uma atividade de risco. O lucro é uma obrigação social que além de remunerar o capital e ser usado para reinvestir no negócio, porque o que não cresce desaparece, serve para premiar o risco do empreendedor. Porém, tem empreendedor que em momentos de crise corre do risco, o que no fim das contas é o mesmo que correr do lucro.

Sabemos que a maior ferramenta de vendas é o crédito e em tempos de crise esse valor percebido emocionalmente pelo consumidor tende a ser exponenciado, ou seja, hora de ofertar mais crédito, mas por medo ou inabilidade empreendedores fogem do crediário, entregando lucros e fidelização de clientes a bandeiras de cartões. Elas ficam com o risco, com o lucro e com os clientes, daí me perguntam porque elas crescem tanto. Ora, faça-me o favor. Está na hora de acordar, empreendedores precisam entender que crédito é venda e venda é a principal estratégia de sobrevivência. Precisam ainda entender que o SPC não é uma base de negativação. Acima de tudo ela é uma ferramenta de decisão para ampliar suas vendas, reduzir seus riscos (nunca acabar, pois são base do lucro) e proteger o mercado contra ação de estelionatários.

O Associativismo criou um excelente mecanismo de proteção ao mercado para impulsionar o crédito, que mesmo ante tanta evolução do marketing não conseguiram criar algo tão poderoso para vender e fidelizar clientes como o crediário. Entender isso é entender que os consumidores foram reimaginados e precisamos reimaginar o nosso comércio, antes que o bonde passe. O Caminho existe. O caminho é ASSOCIAR.

O autor Gilmar Denck é empresário com 30 anos de experiência em associativismo, formado em Filosofia e Administração.