A arte da liderança e suas responsabilidades

Uma das melhores reflexões sobre hierarquia que já vi foi na série Black Sails. Baseada em fatos históricos e com personagens reais, mostra, em 1715, durante a Era Dourada da Pirataria, o famoso Capitão Flint em meio a uma luta pela sobrevivência das atividades piratas na Nova Providência (Ilhas Nassau).

A atividade pirata cada vez mais ameaçava os navios mercadores a serviço dos reinos europeus que declararam a pirataria hostis humani generis (“inimiga da humanidade”). Assim, os piratas decidem declarar guerra contra toda e qualquer forma de lei. Como em toda corporação, também no navio pirata o item de maior valor é sempre a informação, e ninguém mais que o cozinheiro detém o maior número de informações, pois este transita em todos os departamentos do navio e goza do prestígio do comandante e de todos os liderados, reunindo em si um conjunto de informações que o fazem acreditar estar melhor preparado que o comandante para dirigir o navio.

Brilhantemente o Capitão Flint percebe este desejo e antes que se transforme em motim, entrega o comando ao cozinheiro como teste em uma empreitada. Nos primeiros dias a vassoura nova mostrava alegria e segurança no comando, trazendo um clima de alegria e esperança a toda a tripulação. Não tardou chegarem ao combate, e também não demorou o cozinheiro se perder no excesso de pressão que o momento trouxe e foi pedir orientação ao velho capitão, que mesmo entre trovões dos canhões em meio a batalha respondeu: “assumiu o comando? Assume também a responsabilidade. Tudo que acontecer aqui hoje ficará para a tua história, sejam boas ou más, as tuas decisões impactarão a vida de todos neste navio e de todos que nos esperam. Vá e termine a luta, ela é tua”.

A lição neste capítulo a meu ver foi de uma genialidade ímpar. Entender a linha de comando e responsabilidade é uma arte que poucos dominam. Muitos que ocupam cargos de liderança exigem respeito sem conquistá-lo. Outros na linha de liderados desejam o comando apenas pelo sonho dourado da pseudoliberdade que enxergam sem um chefe lhe pressionando, não entendendo que quanto mais alto na linha hierárquica, maior a responsabilidade, e por consequência, maior a pressão.

No meio existem os verdadeiros líderes que se preocupam acima de tudo com o propósito da causa e sabem que tudo neste mundo é feito por pessoas e para as pessoas, e por entender assim, não necessita de conhecimentos técnicos para a função, pois o que lhes mantêm com olhos fixos no castelo de proa é a certeza de que além da linha do horizonte, o seu destino lhe aguarda, e esta resiliência arrasta tudo e todos que o circundam. O caminho existe, vamos trilhar.

Gilmar Denck – Gerente Institucional da ACIPG

O autor é empresário com 30 anos de experiência em associativismo. Formado em Filosofia e Administração

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