Já entendemos a missão da liderança, mas qual a missão da entidade? Seria a mesma missão? Vamos buscar entender juntos. O justo entendimento pode corroborar para que a liderança mantenha sua visão sobre a proa do navio e seus liderados consigam entender cada ação e cada passo por entenderem a visão do líder.
Qual a missão de um líder? O líder tem a função de envolver as pessoas nos objetivos da Organização. Afinal, para que os resultados almejados sejam alcançados, é essencial que todos estejam alinhados e seguindo na mesma direção.
O líder distribui as tarefas para otimizar o trabalho de toda a equipe, conseguindo valorizar cada um, sem perder de vista o ecossistema geral no qual a entidade atua. Além de estimular o comprometimento, as características de liderança são essenciais para inspirar confiança, motivação e aliança.
Muitos são os propósitos de um líder empreendedor cívico, porém, talvez o maior deles esteja em apoiar, direcionar e desenvolver as pessoas. Acredito que este sempre será o principal objetivo da liderança. Desenvolvimento de pessoas para que entendam e busquem a missão da entidade, essa é a verdadeira missão de um Líder, pois é assim que ele consegue gerar cada vez mais os melhores resultados e trazer o desenvolvimento sustentável para sua comunidade.
Há muito romantismo e muita confusão semântica nas missões de entidades estabelecidas por aí, e por utilizarem a ferramenta do benchmarking, não são raras as vezes que vemos os mesmos erros se repetindo por todos os cantos da nação. Muitos enxergam a entidade como um sindicato que deve defender os interesses dos empresários, duplamente equivocado pois esta não é função de entidade nem tampouco é a visão adequada para sindicatos que deveriam focar no desenvolvimento do ambiente de trabalho onde patrões e empregados possam encontrar mecanismos de evolução contínua na relação ganha-ganha. Outros acreditam que a missão da entidade é salvar empresas assistindo o empresário em suas necessidades de gestão. Isto é função de consultorias, assessorias e instituições especializadas como o Sebrae ou o sistema S.
Outros acreditam que uma entidade deve desenvolver serviços para reduzir os custos de operações das empresas, o que tecnicamente não é ruim, porém perigoso pois devia da missão principal. Um dos fatos que corroboram na direção desta crença foi o sucesso do serviço de proteção ao crédito (SEPROC) que muito contribuiu com o desenvolvimento do comércio e ainda trouxe muita rentabilidade para as entidades. Isto é bom, mas não é o objetivo. Mas se não são estes quais são?
No Google entidades sem fins lucrativos está definido assim: “Entidades sem fins lucrativos, associações e fundações são instituições de natureza jurídica que tem o objetivo de realizar uma mudança social”.
E ainda: “instituições do terceiro setor possuem uma grande importância para a sociedade devido às ações que auxiliam no processo de transformação da realidade de muitos cidadãos”.
Não entraremos aqui nos aspectos de arrecadação, manutenção por rateio direto, nem do acúmulo de capital e ou patrimônio que devem ter destino único e exclusivo para a realização de sua missão, segundo sua natureza jurídica sem fins lucrativos. Vamos manter apenas a discussão sobre a verdadeira missão de uma entidade, fonte do seu verdadeiro poder.
Para entender a missão da entidade vamos recorrer ao conhecimento estrutural na engenharia civil. Todo engenheiro sabe a importância dos pilares e das sapatas para a sustentação de uma obra, e sabe que sua estrutura e tamanho deve ser proporcional ao tamanho da obra sobre ela pretendida.
Vamos tentar entender isto: o uso das sapatas na construção civil gera inúmeros benefícios. Um deles é oferecer um trabalho mais eficiente, já que são materiais construídos de forma direta no solo, dentro de alguma escavação. Além disso, entre as fundações rasas, as sapatas são as estruturas que aguentam maior capacidade de carga.
O concreto utilizado nas fundações deve apresentar propriedades específicas para desempenhar seu papel com segurança. Deve-se assegurar resistência às agressões do solo. A sapata com viga alavanca ou viga de equilíbrio é o “elemento estrutural que recebe as cargas de um ou dois pilares (ou pontos de carga) e é dimensionado de modo a transmiti-las centradas às fundações. Da utilização de viga de equilíbrio resultam cargas nas fundações diferentes das cargas dos pilares nelas atuantes”.
Conclusão: precisamos entender e saber como fixar no solo as sapatas necessárias para suportar a obra, da mesma forma, construir uma sociedade exigirá o mesmo grau de conhecimento, energia e até recursos para se estabelecer estes alicerces.
No governo, precisamos dos três poderes, para executar a obra do desenvolvimento sustentável, precisamos do legislativo para que organize o ordenamento jurídico mínimo para regular as relações e interações humanas para oferecer a ordem social, mas precisamos da justiça para equilibrar as forças entre os impérios econômicos, os grupos políticos e também regular a justa aplicação da lei de forma a não condenar inocentes e não favorecer algozes foras da lei. Esta função da justiça funciona como uma sapata. Um alicerce onde podemos construir nossos planos de governos e conjuntos de leis que beneficiem a todos sem distinção. Comumente chamada de segurança jurídica que tudo suporta para que as relações humanas possam corroborar com o desenvolvimento social.
Da mesma forma que a justiça funciona como o pilar de sustentação da democracia, precisamos de um quarto poder para vigiar e manter a ordem entre os poderes. Este papel foi desempenhado com maestria por muito tempo pela imprensa, que assumiu o papel de vigiar e mostrar a todos os meandros do poder, com objetivo de mantê-los no propósito. A imprensa abastecia a sociedade e esta exercia o poder absoluto, assegurado na constituição. Atualmente, com advento das redes sociais, o papel da informação está sendo rediscutido, pois temos os fatos na palma de nossas mãos em tempo real, sem o tratamento dos objetivos e mensagens que os fatos mostram nua e cruamente sendo divulgados ao vivo. Hoje sabemos muito mais e podemos ter nossa própria opinião o que de um lado enfraqueceu o poder das grandes mídias e por outro pode estar abrindo um perigoso canal de desinformação ou contra informação. Este debate está apenas começando, mas o que importa aqui é entender como a sociedade deve vigiar, lutar e assegurar para manter o poder em suas mãos. Nossos valores de liberdade, democracia e solidariedade são inegociáveis, mas estão sob ataque direto e constantes de grupos poderosos em todos os cantos do mundo. Sabemos da força do capital que pode corromper governantes, justiça, imprensa e lideranças e muitas vezes somos até vencidos pelo desânimo ao perceber a força destes impérios, que operam veladamente longe dos holofotes da informação. Talvez uma das maiores entre as missões da entidade seja justamente manter a resiliência da sociedade para não sucumbir ante a força do imperialismo, seja ele econômico ou político.
Assim, podemos concluir que as entidades são o alicerce chave da sociedade. Somente o terceiro setor pode assegurar o poder nas mãos da sociedade. Desprovidos de interesses, egos e vaidades, podemos imaginar em sistemas de vigilância de forma a corroborar com governantes justos que desejam promover a justiça social.
Em síntese, a missão de uma entidade sem fins lucrativos, é assegurar meios de proteção a liberdade, preservação da democracia e promoção da solidariedade de forma a contribuir com o poder instituído na construção de um mundo melhor através do desenvolvimento sustentável.
E para cumprir esta missão, o que temos de fazer? Para proteger a liberdade, devemos vigiar constantemente o legislativo, a fim de entender e assegurar que só aprovem leis que sejam de interesse coletivo. Esta função do Observatório Social, instituto independente, criado com este objetivo, deve ser apoiado e promovido por todas as entidades do terceiro setor.
Para preservação da democracia, devemos primeiramente fazer com que todo cidadão se organize em algum grupo associado, para que tenha espaço para opinar, influenciar e votar sobre tudo o que diz respeito às leis da sociedade, e nestes grupos exercitar a democracia, participando e incentivando a participação, o debate respeitoso, permitir a influência e exercitar o crescimento através do embate de ideias acima do embate entre pessoas, e por fim permitir que o entendimento se aproxima da ideia de que todos devemos buscar em conjunto as soluções sociais de forma aberta, transparente onde não se respeita hierarquias mas sim ideias, e que todas as decisões representam um consenso, entendendo que consenso não significa unanimidade mas sim compromisso para a ação coletiva. Entender que consenso é o duro aprendizado de respeitar a opinião alheia mesmo sendo diferente da nossa e mesmo assim estar motivado a trabalhar juntos no objetivo comum da construção deste mundo.
Para a promoção da solidariedade a entidade deve mostrar por todos os meios todos os cases que demonstram o poder da cooperação e os riscos da competição. Permitir que o ambiente de negócios local seja extremamente favorável a cooperação e indigesto com a competição, de forma a promover um ambiente saudável catalisador de oportunidades de negócios onde todos possam compartilhar.
Deus, seja ele o primeiro motor de Aristóteles, a energia fagulha em nosso peito do Buda, a energia presente em todas as coisas dos Hindus, ou o pai celestial dos judeus, cristãos e islâmicos, em sua infinita bondade nos presenteou com este planeta, nos brindou com a sapiência com a qual podemos desenvolver mecanismos e ferramentas que além de facilitar a nossa sobrevivência nos permite encontrar um sentido para tudo isto, e com isto encontrar a felicidade. Com um pouquinho de esforço podemos acreditar que Ele construiu, nos capacitou e nos entregou de presente.
Agora é conosco, ou fazemos ou seremos dominados pelos que fazem. A escolha é nossa, fazermos juntos e encontrar juntos a felicidade ou continuar lutando sozinhos mesmo sabendo que nosso ego pode nos levar muito longe, mas que ao chegar perceberemos que chegamos sozinhos, e isto não tem graça alguma. O caminho existe. O caminho é associar. Vamos trilhar.
O autor Gilmar Denck é empresário com 30 anos de experiência em associativismo. Formado em Filosofia e Administração.
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