
O Propósito Oculto e o Propósito da Sociedade
Gilmar Denck
Em meio aos corredores silenciosos da instituição, o líder caminhava com passos firmes, o peso de suas decisões sobre os ombros. Sua missão era clara: conduzir a instituição ao sucesso, alcançar metas ambiciosas e manter a equipe motivada. No entanto, havia algo mais profundo em seu coração — algo que ele não compartilhava com ninguém e, muitas vezes, nem mesmo percebia. Algo plantado pela cultura vigente o mantinha focado em um propósito obscuro.
Esse propósito pessoal era como uma chama ardente, alimentada por experiências passadas, sonhos e desejos. Ele acreditava que a instituição poderia ser mais do que números e lucros. Queria criar um ambiente onde as pessoas se sentissem valorizadas, onde pudessem crescer e prosperar. Mas sabia que essa visão não era compartilhada por todos — ou, ao menos, não parecia fluir naturalmente. No fundo do coração, ele reconhecia que essa dissonância refletia a própria divisão dentro de si.
A instituição tinha seus objetivos: expandir, conquistar novos patamares, tornar-se referência absoluta (comprovada por pesquisas de NPS em todos os setores da sociedade), superar a inércia e romper com a cultura da aristocracia e do sistema republicano imperante.
Vivia, assim, um dilema constante. Precisava equilibrar seu propósito pessoal com as demandas da instituição. Às vezes, tomava decisões que pareciam contradizer sua visão interna, mas as justificava como necessárias para o bem maior — ou para salvar o momento. Raramente questionava se estava em harmonia com sua verdadeira missão. Afinal, o mais importante era preservar a imagem, e para isso, errar menos era imperativo.
Nos encontros com a equipe, sorria, inspirava e motivava. Falava sobre metas, estratégias e resultados. Mas, sozinho em seu íntimo, refletia sobre o que realmente importava. Com frequência, perguntava-se se estava sendo autêntico ou apenas desempenhando um papel. Afinal, ele era um líder, e líderes não podiam ser egoístas, certo?
Às vezes, olhava pela janela e imaginava como seria se todos compartilhassem seu propósito. Visualizava uma instituição onde as pessoas trabalhavam com paixão, onde o sucesso não era medido apenas em cifras, mas também em sorrisos e realizações pessoais. A realidade, porém, era diferente. Ele precisava tomar decisões difíceis, sacrificar pequenas vitórias em prol do todo.
E assim, o líder seguia sua jornada, com o propósito pessoal ardendo em seu peito. Sabia que, no fim, a verdadeira liderança não estava apenas em números e estratégias, mas na capacidade de unir esses dois mundos. Esperava que, um dia, pudesse revelar seu propósito oculto sem prejudicar a instituição. Até lá, seguiria dissimulando, mantendo a chama viva — mesmo que apenas em segredo. Associar é o caminho, e para trilhá-lo, precisamos despertar os líderes dentro de cada um de nós.
O autor é empresário com 30 anos de experiência em associativismo. Formado em Filosofia e Administração