O papel da contra-intuição

Gilmar Denck

A intuição funciona como um mecanismo de defesa do nosso comportamento de várias maneiras. Ela é uma forma de conhecimento que não precisa passar pelo crivo da razão ou da lógica, sendo muitas vezes instantânea e automática. Na psicologia, a intuição é vista como um processo pelo qual os humanos chegam a conclusões sobre algo, mesmo que de forma involuntária e inconsciente.
Cientificamente, a intuição pode ser entendida como o resultado de processamentos cerebrais que comparam informações sensoriais e experiências atuais com conhecimentos e memórias passadas. Isso faz parte de uma “estrutura de processamento preditivo” que prepara o cérebro para lidar com situações da melhor forma possível.
Para acessar a intuição, é sugerido nutrir o conhecimento e exercer virtudes, pois a intuição nasce de uma inteligência presente em todo o corpo, funcionando como um “GPS da alma” no sentido laico e filosófico. Ela nos ajuda a tomar decisões rápidas, especialmente em situações onde não há tempo para análises detalhadas, agindo como uma defesa ao nos orientar em direção a escolhas que podem ser mais seguras ou benéficas para nós.
O papel da contra-intuição na evolução do conhecimento é bastante significativo. Ela desafia nossas crenças e percepções prévias, levando-nos a questionar e reavaliar o que consideramos ser verdadeiro. Isso pode ser especialmente útil na ciência e em outras áreas de investigação, onde a contra-intuição nos obriga a olhar além das aparências e a buscar explicações mais profundas e fundamentadas.
Por exemplo, na história da química, a controvérsia entre Alfred Werner e Sophus Mads Jørgensen sobre a estrutura dos compostos de coordenação ilustra bem isso. Werner, utilizando sua intuição, propôs ideias que eram contra-intuitivas na época, mas que acabaram por revolucionar o entendimento da química. Jørgensen, por outro lado, adotou uma postura mais conservadora e metódica, baseando-se em evidências experimentais para desafiar as proposições de Werner.
A contra-intuição nos ajuda a avançar no conhecimento ao nos forçar a desenvolver novas teorias e modelos que explicam melhor os fenômenos observados. Ela é um motor para a inovação e para a criatividade, pois nos encoraja a pensar fora dos padrões estabelecidos e a explorar possibilidades que antes pareciam improváveis ou impossíveis.
No campo da concorrência a contra intuição nos leva nessa direção. Existem estudos sobre como a presença de opções competitivas pode influenciar o comportamento do consumidor e potencialmente aumentar as vendas devido a uma variedade de fatores, como a teoria da escolha do consumidor e o efeito da comparação direta entre produtos.
O mais famoso destes estudos mostra que em uma universidade americana onde existia uma máquina de Coca-Cola que vendia 100 latas por dia e quando colocaram uma máquina de Pepsi passaram a vender 400 latas devido ao efeito de escolha ter aumentado o apelo de compra.
Isto mostra o quanto nossa intuição pode estar nos traindo e nos atrasando. Existe no universo e no mercado bilhões de oportunidades ainda não exploradas e em maioria estamos olhando e se preocupando com a concorrência. Não é contrassenso?
O autor é empresário com 30 anos de experiência em associativismo. Formado em Filosofia e Administração

PHP Code Snippets Powered By : XYZScripts.com