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Eva e a reimaginação

Ao que tudo indica nos vestígios arqueológicos que datam mais de 40000 anos, foi a mulher quem deu início ao sistema de produção ao descobrir que grãos amassados com água e secados ao sol se transformavam em pão (foram encontradas pequenas focaccias de grãos moídos), e bem provável ao moer derrubava grãos molhados no chão que germinaram, mostrando a elas o caminho da agricultura que nos possibilitou o agrupamento em aldeias.


Assim foi Eva padeira a primeira atitude empreendedora que deu início à fabricação de alimentos que descobriu a agricultura iniciando a sociedade. Com aldeias estabelecidas, foi necessária uma distribuição de tarefas e um sistema de trocas (de produtos e favores) para se obter ordem e prosperarem. Nasceu assim o comércio e a economia exatamente como é hoje, um conjunto de produção, onde o excedente é colocado no mercado das trocas. Nada mudou desde este pontapé inicial.


Todos os habitantes da aldeia devem produzir algo para oferecer ao mercado e obter em troca o que precisa ou deseja. As relações e técnicas foram tomando formatos sofisticados com a evolução do conhecimento e influenciadas pelo desenvolvimento de tecnologias avançadas ao longo do tempo. Este avanço tecnológico permitiu sempre um aumento exponencial de produção, a ponto de hoje transformarmos grãos em combustíveis ou polímeros, tamanha a fartura (Não entram aqui as questões da distribuição desta riqueza, pois ainda temos a desigualdade a combater).


Curioso perceber ao longo da jornada que a cada revolução tecnológica, houve sempre o surgimento de grupos dominantes e escravagistas, o que em consequência nos levou a conflitos que por vezes tomaram dimensões mundiais como forma de reequilibrar a balança. Em pleno século XXI estamos vivendo o olho do furacão da revolução digital, e como em toda revolução tecnológica, existem grupos sobressaindo e avançando velozmente, enquanto que uma massa permanece ainda inerte e acreditando na salvação prometida pelos líderes abutres que sempre aparecem para se beneficiar da dor ou da fragilidade humana de se organizar como sociedade.


Este campo do debate social é amplo e merece muitos debates, mas neste texto gostaria de chamar a atenção dos empresários para uma revolução comercial que poucos parecem perceber. As tecnologias digitais evoluíram exponencialmente nos últimos anos e transformaram os hábitos de consumo das pessoas. Isto todo mundo sabe, o que talvez não estejam percebendo está no fato que o hábito de consumo não foi afetado apenas pelos multicanais de comércio disponíveis na atualidade, mas também pelo excesso de informação a que estão expostos a cada minuto neste novo mundo.


Somos bombardeados por milhões de fatos e fotos a todo instante. O nosso cérebro quiçá consegue processar tudo o que recebe e isto faz modificar violentamente os valores e motivos de decisão de compra. Até meados da metade do século passado os consumidores em maioria eram movidos pela simples disponibilidade dos produtos. Na sequência, com o avanço da produção industrial, se tornaram seletivos e passaram a definir as compras por qualidade e preço. Aqui nasceram as grandes campanhas de marketing, divulgando produtos melhores a preços super vantajosos, trazendo ao mercado uma disputa acirrada pelos clientes.


Hoje o consumidor está sendo bombardeado em casa, no trabalho, na rua e em todo lugar com ofertas e mais ofertas, com facilidades que não se pode contar nos dedos. Com isto fomos reimaginados e a decisão de compra também evoluiu e não leva mais em conta apenas preço e qualidade. Surgiram outros valores que afetam muito mais, como por exemplo, como o produto adquirido está impactando social e ambientalmente e como colabora com a organização da sociedade, o que fez surgir por iniciativa da ONU a administração ou visão ESG (o que a empresa faz pelo social, pelo ambiental e como governa seus negócios impactando numa cultura anticorrupção).

Além destes fatores que estão em voga, dá para perceber ainda modismos, influências regionais e culturais. Ou seja, a mente do consumidor mudou e continua mudando. E agora, a pergunta que não pode calar: quanto sua empresa percebeu e está investindo nesta mudança? Ou acha que entrar no e-commerce é a grande bala de prata que vai te salvar da peneirada? Vou mais longe ainda, até onde as entidades de classe perceberam isso e começaram a trabalhar para suportar seus associados nesta transformação?
O mundo e a história é um bonde, do qual não podemos descer, mas podemos escolher a hora de embarcar. Só cuide para não o perder, porque não sei se percebeu também, mas os bondes estão cada vez mais velozes. Da minha parte, sei lhe dizer que o trilho deste bonde é o ASSOCIAR. Vamos trilhar.


O autor Gilmar Denck é empresário com 30 anos de experiência em associativismo, formado em Filosofia e Administração

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