Olha que curioso. O tema preferido pelos brasileiros para representar o ano de 2022 que se inicia em breve foi a “Esperança”. Nada mais adequado para dar sentido e significância a uma retomada após passar dois anos sob a égide do medo e da desesperança.
Antes de falarmos dela e da significância dela no meio empresarial vamos lembrar as palavras temas escolhidos pelos brasileiros nos últimos anos.
Em 2021, fomos de vacina, palavra que em sua mais profunda essência nada mais queria dizer que esperança também, porém, este ano fomos mais claros e objetivos ao definir o tema.
Para 2020 a palavra que mais apareceu nas pesquisas foi “saudade”, sem adentrar aqui nem querer alongar sobre os motivos que podem ter nos levado a este sentimento, mas com certeza algo do porvir estava por perto, pois sentíamos que o caminho pela frente deveria encontrar-se com o caminho passado, no mais puro sentimento da dúvida de quem em dado momento para e pensa; “peguei o entroncamento certo?”. Para refletir.
Em 2019 tivemos o tema emergência climática em pauta, precedido em 2018 por “tóxico”, enquanto que em 2017 tivemos o tema “Terremoto juvenil”, mostrando nitidamente que nós, a população em geral, estávamos refletindo sobre os rumos da humanidade, discutindo e preocupando se com o clima, com os relacionamentos tóxicos e já atentos à revolução silenciosa provocada pela insurgente juventude do milênio.
Estes temas são mais que palavras e trazem em seu bojo conceitos que estão definindo comportamentos, os quais são observados de perto por profissionais de marketing com a finalidade de entender não só o que está por trás, mas também os desejos que os movem e assim, através da criação, atender esses desejos e vender.
A reflexão de hoje não está nesta direção, mas sim da provocação para que possamos entender como isto afetou, está afetando e como continuará afetando as relações humanas e por conseguinte as relações de consumo que definem mercados.
Ainda buscamos entender como existem pessoas que detêm uma capacidade natural de aglutinar em torno de si mesmas uma legião de seguidores, ao mesmo tempo que buscamos entender como existem pessoas diferenciadas que se destacam na multidão, as chamadas fora da curva, que também parecem influenciar outras pessoas, determinando assim, estilos e modos de vida, sem esquecer dos estudos em torno dos estímulos externos poderosos que são capazes de afetar as nossas decisões, nos tornando legiões de influenciados que de uma forma ou de outra, num grau mais intenso ou menos, mas todos negligenciadores do livre arbítrio, apenas seguidores dos modismos importados.
Definitivamente o conceito liberdade virou apenas tema de grandes produções cinematográficas. Abortamos o direito de ser o que quisermos em troca de segurança, status ou poder.
Não tenho tanta convicção assim para dizer se algum dia fomos livres e usamos nosso livre arbítrio em sua totalidade, afinal somos consequência do meio e dos fatos que nos permeiam, mas ao que me parece, hoje buscamos explicar como nossos pensamentos determinam nossas ações, e como os estímulos externos acabam determinando nossos comportamentos e assim somos moldados pelo interesse econômico ou político transformado em algoritmos que abastecem a inteligência artificial de nossas fabulosas máquinas do presente, as quais aguardam ansiosas a chegada do 5G para dominarem tudo e a todos.
Mas voltemos ao conceito de esperança, e tentar entender o que nós estamos querendo dizer para nós mesmos. Paulo Freire, ao tentar modificar o método de formação acadêmica, ao retirar a forma obtida através da pressão, tal qual a água que entra livre na forma, e ao sofrer a pressão do frio se endurece e toma a forma proposta e tenta estabelecer uma forma livre que permitisse o aprendiz (água) transcorrer livremente pela educação formal (forma de gelo), livre das pressões externas, pode ter sido ousado demais ou simplesmente negligente em uma ou outra característica da psicologia humana, o que não vem ao caso diretamente aqui, porém, ele exortou que esperança não pode representar espera.
Esperança pode remeter a espera, atitude de pessoas subordinadas, que aguardam que o Outro lhes dê o motivo para que possa engajar a seus desejos. Aqui, esperança é apenas um observador, que remete à paixão daqueles que acham que o poder está sempre em terceiros, e ainda espera que sua potência e força vai libertá-lo.
Pessoas que passam a vida esperando que algo mude para que elas possam mudar e enfim encontrar a paz ou a felicidade. Fuja disso. Vejamos o que o próprio Paulo Freire falava: “É preciso ter esperança, mas ter esperança do verbo esperançar; porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo”.
Não sou fã do autor e confesso que nem conheço a sua filosofia a fundo, mas como este não é o caso, me atenho apenas a observar a riqueza de um detalhe, quando ele afirma “que esperançar é juntar-se com os outros para se fazer de outro modo.” Aqui ele foi genial, pois remete toda a humanidade ao seu encontro com a maior essência do presente, pois mostra a luz do caminho: para que possamos seguir em frente é necessário esperançar, olhar para frente, acreditar no futuro, mas sem esquecer quem somos e o que somos, acima de tudo uma soma de indivíduos que formam a coletividade.
Somente com a união das forças distintas e complexas presentes em cada ser, e pela divisão dos compromissos coletivos que se apresentam é que encontraremos a paz, a prosperidade e a felicidade, que abastecem as nossas buscas no mais íntimo de nosso ser, abastecendo a cada ano a nossa esperança.
É com esta esperança renovada que iremos continuar nossa missão de exacerbar os impostos que virão do aumento da produção, gerando empregos e melhores rendas, melhorando nossos produtos e serviços, investindo em nosso entorno social, ambiental, cultural, econômico e político. Premiando nossos empreendedores. Produzindo ambiente de exponenciação de vendas, formando equipes poderosas. Facilitando a informação. Provocando a interação. Ensinando representatividade e fomentando a inovação. Despertando o espírito empreendedor.
Desenvolvendo a governança e as competências gerenciais. Disseminando a Cultura Associativa. Fortalecendo o comércio local. Mas, acima de tudo, semeando, cultivando, regando e fazendo florescer a esperança em tudo e em todos. Feliz esperançar. Feliz 2022. E que seja apenas o começo.
O autor Gilmar Denck é empresário com 30 anos de experiência em associativismo, formado em Filosofia e Administração.
Leave a Comment
You must be logged in to post a comment.