Gilmar Denck
Somos formados basicamente por um conjunto de três fatores que determinam toda a nossa existência, a saber: nossos desejos; a forma que desejamos; e as ações resultantes.
Todo mundo sem exceção carrega dentro do peito inúmeras preocupações e desejos separados primeiramente pela fonte, seja ela, pessoal, familiar, profissional, espiritual ou financeira. Aqui se forma a famosa roda da vida onde aconselha se buscar o equilíbrio. Depois, nossos sentimentos (desejos) são separados por ordem de importância onde definimos alguns como prioridade e outros deixamos por conta da vida, a famosa “vida leva eu”, do Zeca Pagodinho.
Preste atenção: talvez por nossa educação de berço, onde na infância em maioria fomos protegidos por tutores, os super pais e super mães, que resolvem a maioria de nossos problemas, até hoje vivemos sonhando com a vinda de um super herói que irá nos salvar. Em todos os sentimentos, de alguma forma desejamos uma solução, e como solução exige suor, dedicação, estudo e paciência preferimos delegar esta missão a terceiros.
Aqui, ao perceberem esta fragilidade humana, nascem os charlatões, que são uma espécie de empreendedores do mal. Empreender é enxergar uma necessidade ou desejo humano e perceber uma oportunidade para desenvolver uma solução ou uma facilitação que leva a solução e ganhar dinheiro com isso. Pois bem, enxergar oportunidade e criar solução é a magia do empreendedorismo, entretanto charlatões vão mais fundo e exploram nossas dificuldades mais íntimas e naturais e oferecem facilidades num passe de mágica. Neste campo surgem os marketeiros da política, os vendedores de esquemas de pirâmide econômica, vendedores de ilusões etc. Campo aberto para os espertalhões. E o curioso é perceber que a população em maioria parece gostar da brincadeira. Foi assim que Júlio César chegou ao trono como imperador. Vendeu a ideia de um inimigo e se colocou como um herói para resolver todos os problemas. Lutou contra inimigos criados por ele e trouxe ao povo o pão e o circo obtendo a glória de destronar o senado implantando o império. Simples assim.
Mas onde está o salvador? Pois bem, talvez você não goste do que mostrarei a seguir, mas teve um homem chamado Jesus que veio ao mundo e dizia que as soluções de todos os nossos problemas estão em nós mesmos quando nos propomos viver em unidade, na cooperação. Mal compreendido foi ofertado como moeda de troca na cerimônia de páscoa dos judeus, libertando Barrabás e crucificando o utópico messias.
Esta é a realidade dos fatos em que vivemos. Veja:
Desejamos que alguém cuide das ruas, tapem os buracos, que não deixe os carros circularem em alta velocidade, não queremos lombadas ou radares, queremos, queremos, queremos …
Como empresários desejamos: mais clientes, menos chatos, bons pagadores. Queremos menos impostos, mais segurança, uma economia forte, mais crédito, menos concorrência.
Mais fornecedores, trabalhar menos, viajar mais, menos informalidade, mais valor meu produto, mais valor minha imagem, menos burocracia, menos exigência legal etc etc etc.
Porém, de quem é esta função? Percebe como é fácil enganar as pessoas, basta prometer e depois mostrar que está tentando resolver. Já viu este filme?
E a solução? Jesus falava em cooperação, porém muitos colocaram o mestre num altar, adoram no como um salvador da alma e o relegam apenas para as coisas do espírito enquanto que sua mensagem forte era justamente a convivência social através da cooperação.
O cooperativismo vem mostrando toda a sua força da mesma forma que o associativismo tem diversos cases que mostram a força de cooperação entre seus membros, trazendo soluções mais rápidas, mais perenes e mais produtivas promovendo o desenvolvimento do local onde estão inseridos.
A questão toda é: onde estão as lideranças cívicas que entendam este processo e assumam a missão de unir as pessoas em torno de um mesmo objetivo? Acredito que esta talvez seja a maior missão das entidades de classe. A missão existe, faltam obreiros. O caminho existe. O caminho é Associar. Vamos trilhar.
O autor é empresário com 30 anos de experiência em associativismo. Formado em Filosofia e Administração