Gilmar Denck

Porque o povo preferiu Barrabás e não Jesus? Um bandido contra um santo homem. Qual a lógica? Pilatos, lavou as mãos e deixou o povo decidir. Democracia?
Causas prováveis: o povo pode ter sido instigado pelos líderes religiosos, é possível que a multidão tenha sido influenciada pelos líderes religiosos judeus que queriam se livrar de Jesus e consideravam-no uma ameaça às suas autoridades (aqui a causa seria proteger a crença ou a religião); a multidão pode ter sido influenciada por expectativas diferentes sobre o que o Messias deveria ser. A multidão pode ter interpretado mal os ensinamentos e as ações de Jesus, esperavam, como é normal até hoje, um líder político que se opusesse ao domínio romano, e neste ponto Barrabás era coerente ao se colocar como um rebelde.
Não considero aqui correntes filosóficas ou religiosas. Procuro entender o que nos leva todos os dias escolher líderes e heróis que prometem lutar por mim e não os doutrinadores que insistem na afirmação que a solução de nossos problemas está em nós.
Esta mecânica de dependência de heróis protetores levou César a se tornar imperador, derrubando a democracia. Afinal o povo prefere um imperador protetor do que ter a responsabilidade de se proteger e produzir. Muito mais fácil ter com quem reclamar e jogar a culpa de nossos fracassos do que assumir a responsabilidade pela vida pessoal e pelo convívio social.
Vejo, hoje mais que nunca, cristãos que se horrorizam com a passagem bíblica do julgamento de Jesus, mas continuam jogando suas vidas na condução de líderes religiosos e políticos, e o pior, em vez de estarem preocupados com a paz social, buscando a produtividade e a austeridade dos atos, estão preocupados em mostrar a todos que suas escolhas são as corretas. Surgem assim o “nós contra eles”. Quem não é adepto é inimigo e deve ser combatido. Direita x esquerda. Cristão x não cristão. Religiosos x ateus. Patrões x empregados. Progressistas x conservadores. Enfim tem ideologia a lá carte, só escolher e se esbaldar. Enquanto isso a produção de riquezas caminha a passos lentos deixando a margem milhões de pessoas que por vezes não conseguem enxergar oportunidades para produzir, ou muitas vezes não as encontram pelo simples fato de a sociedade ainda estar a serviço dos impérios numa luta insana que nada promove a não ser fome e miséria.
Escolher Barrabás é ter a sensação do dever cívico cumprido, de ter participado e de alguma forma ter impedido que o “mal” vencesse. Sensação de dever cumprido.
Escolher Jesus, é assumir a responsabilidade cívica, e entender que a solução dos problemas exige a nossa participação e a nossa cooperação. Significa entender que não existe o “nós contra eles ” que existe apenas nós neste momento da história e que, segundo o mesmo Jesus, Deus carregou cada um de nós com diferentes talentos, e através da soma e partilha destes somos capazes de transformar o universo.
Então, quem você está escolhendo? A decisão é tua, porém a consequência é nossa. Queira ou não, acredite ou não, estamos todos interligados a tudo e a todos. O caminho existe, o caminho é Associar. Vamos trilhar.

O autor é empresário com 30 anos de experiência em associativismo. Formado em Filosofia e Administração