Gilmar Denck
Há uma linha tênue entre democracia (liberdade) e libertinagem. Enquanto a Democracia é o regime de governo cuja origem do poder vem do povo, em um governo democrático, todos os cidadãos possuem o mesmo estatuto e têm garantido o direito à participação política, a libertinagem pressupõe uma insubmissão, indisciplina.
Este é o grande perigo que corre um governo e até mesmo uma empresa ao definir sua estrutura de comando e responsabilidades. Tentando evitar um sistema rígido de uma ditadura, todos os atores, sejam do ambiente corporativo e ou social, desejam um sistema democrático onde todos sem exceção possam participar e colaborar com opiniões nos diversos campos da gestão.
Entretanto há um pequeno detalhe que pode se transformar em riscos de proporções inimagináveis. Há uma linha limite que divide o sistema de comando e responsabilidades do sistema de valores e propósito de existência da entidade, seja ela uma empresa, uma associação ou uma nação.
Os valores e a missão não podem ser democratizados ou banalizados, como também não pode ser definida com base em interesses e ideologias. A definição de uma missão e dos valores é feita a partir da reflexão e a descoberta do propósito de existência, e ainda, uma vez descoberto ser declarado e compor a carta magna da instituição, definindo assim qual é o seu negócio, qual a sua razão de existir e quais os valores que serão defendidos em toda a sua existência.
Já o comando e suas consequentes responsabilidades podem ser democratizados. A liderança pode e deve ser instituída por livre escolha de todos. Os rumos, ajustes, regras, obrigações podem e devem ser modificadas sempre que necessárias dentro de um sistema democrático (com participação de todos, de forma organizada) porém sempre a luz da carta magna, ou seja, sempre em busca do propósito.
É normal percebermos em governantes a tentativa de alterar o propósito de existência de uma nação em favor de uma ideologia (isto vale para todos os lados). Esquecem com muita facilidade que o propósito de uma nação é gerar riqueza para todos. Não há como democratizar este propósito. Não há como estimular a produção sem prever a distribuição de oportunidades como também não há como oportunizar benefícios a todos desestimulando a produção. Assim como em empresas e entidades diversas não há como alterar o rumo e a condução em cima do propósito apenas porque um grupo dentro do todo não concorde com as decisões.
A discordância é natural e salutar e deve ser o elemento presente em todos os debates para apontar falhas possíveis ou até mesmo para validar as decisões, porém se tomadas pela paixão podem se tornar em verdadeiras ideologias que buscarão o poder pelo poder, ou apenas para tentar provar suas ideias libertinas. Eis o risco. Estamos atentos?
O autor é empresário com 30 anos de experiência em associativismo. Formado em Filosofia e Administração