Não se deixe levar pelo teatro do medo

Gilmar Denck

No final deste ano completarei seis décadas de coexistência nesta vida. Os cabelos brancos vieram na mesma proporção das experiências acumuladas. Bem vivido.
De tudo o que vi, algo me entristece até hoje. A grande orla de pessoas que preferem não viver por medo de morrer. O medo suprime a vida e abafa o empreendedorismo realizador. Está presente em cada um de nós, mas são pouquíssimos que enfrentam, e somente estes poderão vencer. O resto serão marionetes no grande teatro da vida. Mesmo entre aqueles que optam por emprego e garantias, o medo o leva a representar no grande palco das corporações.
Não são raros os grandes currículos, QI elevados. Estes, de um modo geral sabem o que os entrevistadores gostam de ouvir nas entrevistas. São exímios dissimuladores. Não teria problema se dissimulassem apenas na entrevista, problema é que continuam por toda a carreira.
Sabem como ninguém que a diretoria só pensa em resultados mecânicos e diretos, e que o discurso de valorizar pessoas é apenas uma estratégia de marketing.
Sabem melhor que ninguém que o jogo é ser esperto para viver o cotidiano teatral das empresas. Afinal, o que ganha quem tem coragem? Geralmente levam a culpa e são demitidos. Os premiados acabam sendo sempre os bajuladores.
Assim como na vida, na empresa há sempre riscos e oportunidades. Os riscos, sempre carregados de perigos e repercussões imediatas, enquanto que as oportunidades se mostram lentas e incompreendidas. Então pra quê arriscar? Se houver culpa que nunca seja eu. Eis o pensamento dominante.
Todos começam cheios de ideais, com muita energia e vontade de transformar o mundo à sua volta, porém a cultura predominante trata de colocar todo mundo no seu quadrado. E ai daquele que ousar se impor.
Superiores de um modo geral têm mais em que pensar e no fundo também estão preocupados com o próprio jogo do poder. Assim, o idealismo dos iniciantes se transforma lentamente em ceticismo e com passar dos anos se tornam cinismo. Já viu isto?
Este conjunto de fatores leva a maioria a acreditar que não existe lealdade entre pessoas, muito menos entre empresa e empregados. O que existe no fim são apenas interesses e que cada um cuide do seu. Começo do fim.
Estes dissimuladores conseguem atrair ingênuos pela eloquência e lógica dos discursos, geralmente recheados de conhecimento técnico de uma ou outra área, quase sempre recheados de certificados.
Assim, as pessoas e as empresas vão remando no ar vermelho da crença da economia da escassez, que transforma pessoas em soldados que devem afiar diariamente suas espadas para a grande luta contra a concorrência.
Assim, passam os anos, à espera do grande trunfo, do dia da vitória representando cada qual o seu papel, tentando apenas sobreviver enquanto a margem continua a transbordar oportunidades para todos, em todos os sentidos e campos imagináveis ou até inimagináveis.
Como no empreendedorismo, a vida é um ato de coragem, aos medrosos apenas o teatro. A escolha é opcional, a consequência não. O caminho existe. O caminho é Associar. Vamos trilhar.

O autor é empresário com 30 anos de experiência em associativismo. Formado em Filosofia e Administração

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