Só não enxerga quem não quer. No século passado criamos equipamentos fonoaudiológicos que nos permitiram gravar e reproduzir sons. Foi a revolução da musicalidade no mundo. Com ela surgiram as estações de rádio e um número incrível de compositores, grupos e bandas musicais que embalaram a humanidade da época. Foram os anos dourados da música.
O interessante é perceber que os equipamentos de reprodução evoluíram de uma forma magistral, onde hoje podemos carregar milhões de músicas em nosso celular e ouvir onde e quando quiser. Vivemos um momento fantástico da tecnologia, porém a qualidade da composição nitidamente seguiu na linha inversa. Há quem sobe ao palco buscando na coreografia e na exposição do corpo suprir a baixa qualidade de suas composições.
Enfim, se de um lado a qualidade dos equipamentos musicais aumentaram, na linha inversa a qualidade da produção de música despencou.
Aqui lhe convido à reflexão: não há aquele ditado que mostra que mares turbulentos criam grandes marinheiros? Então, ao que tudo indica, a tecnologia veio para facilitar a nossa vida a ponto de nos rendermos a ela e esquecermos que estamos nesta vida para evoluir e crescer. Estamos evoluindo em todos os campos tecnológicos, mas a meu ver estamos regredindo rapidamente no campo das relações humanas.
No comércio é visível o aumento de canais, produtos, serviços e tecnologias modernas que facilitam o consumo, porém pelo outro lado, também podemos perceber que as empresas estão perdendo o tato para lidar com pessoas. O atendimento não evoluiu, pelo contrário, involuiu. Graças de Deus não está generalizado, existem exceções. O que me preocupa é a quantidade.
Lembro-me de meu saudoso pai que não fechava a mercearia antes sem olhar atentamente para ambos os lados da rua e ver se ainda não viriam clientes. Era inadmissível a ele fechar as portas na cara dos clientes, mesmo que o horário em muito tivesse sido ultrapassado. Ele gostava de pessoas e as tratava com carinho em pequenos gestos. Hoje fecham a porta na nossa cara com a maior naturalidade e ainda reclamam se você escolheu “comprar” na loja deles em um horário inadequado para eles. Clientes tem aos montes, porque se preocupar com aquele que não sabe respeitar meus horários, né não? Percebem o que estamos perdendo?
Lembro-me também daquela época que para comprar um mísero litro de leite era necessário levantar de madrugada e enfrentar filas nas padarias. Graças a Deus a produção evoluiu, da escassez passamos ao excesso de produção e hoje você pode escolher o tipo de leite, a quantidade e o preço a pagar pelo leite desejado, podemos até comprar pelo celular e receber no conforto de nossos lares. Temos produtos e tecnologia para isso.
Mas se você desejar mais que consumir, e for ao mercado esperando ser tratado como uma majestade, se esperar encontrar um momento de relacionamento com outras pessoas, a decepção poderá estar a tua frente. Pessoas se apaixonam por tecnologias e estão perdendo a capacidade de se apaixonar por pessoas.
Clientes são considerados algoritmos dos sistemas de vendas. São avaliados e valorizados apenas pelo seu potencial de consumo. A atenção, o relacionamento, a valorização pessoal perdeu espaço e isto está nos fazendo falta. Não queremos apenas comprar, queremos muito mais que isso, mas infelizmente poucos estão enxergando. A satisfação de nossas necessidades é suprida facilmente pelos canais e sistemas modernos de comércio, mas a alegria e a satisfação de ser bem atendido e se sentir amado pelo vendedor está se perdendo, e com isso estamos perdendo a graça pelas pessoas e valorizando cada vez mais as coisas.
Ao meu ver, ainda dá tempo, mas precisamos nos unir e reunir. Reunir pessoas para debater, relacionar e conviver e acima de tudo realizar juntos. Gostamos disso e precisamos disso. O caminho existe, o caminho é ASSOCIAR, vamos trilhar.
O autor Gilmar Denck é empresário com 30 anos de experiência em associativismo, formado em Filosofia e Administração.
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