Gilmar Denck
Para quê dizer sim se o não já está pronto, evita trabalho, dissabor e risco? É preciso ter visão para entender que o não é uma trava no mundo dos negócios. Empreendedor é o cara que sempre se pergunta, por que não? Esta pergunta trouxe as grandes descobertas para a humanidade. Então: por que não?
No mundo dos negócios, a burocracia é frequentemente vista como uma barreira ao crescimento e à inovação. Algumas pessoas parecem ter uma predileção por dizer “não” a novas ideias e insistem em processos excessivamente complicados que podem sufocar o espírito empreendedor. Essa resistência pode ser justificada em nome da segurança ou da conformidade, mas muitas vezes acaba sendo um obstáculo desnecessário.
No setor público, onde a responsabilidade e a transparência são essenciais, algum nível de burocracia é compreensível e até necessário. No entanto, no ambiente empresarial, onde a agilidade e a capacidade de adaptação são cruciais, a burocracia excessiva pode ser comparada a uma erva daninha em um jardim florescente. Assim como as ervas daninhas competem com as plantas por recursos valiosos, a burocracia pode drenar tempo, energia e criatividade, que são essenciais para o crescimento e sucesso de uma empresa.
É importante encontrar um equilíbrio entre a necessidade de procedimentos que garantam a segurança e a eficiência e a liberdade para explorar novas ideias e abordagens. Empresas e empreendedores devem estar atentos para não permitir que a burocracia se torne um empecilho para a inovação e o progresso.
Certamente, a questão do poder pessoal e o uso do “não” como uma expressão de ego é um tema complexo e multifacetado. Em muitos casos, o ato de dizer “não” pode ser uma manifestação de autoridade e controle, uma forma de afirmar o próprio status e poder dentro de uma organização ou situação. Para algumas pessoas, há uma satisfação intrínseca em exercer esse poder, especialmente em ambientes onde a hierarquia e o controle são valorizados.
O “não” pode ser empregado não apenas como uma barreira protetora contra ideias indesejadas ou riscos potenciais, mas também como um instrumento de poder. Quando alguém diz “não”, está, de certa forma, afirmando sua posição e impondo sua vontade sobre os outros. Isso pode ser especialmente evidente em ambientes onde a burocracia é pesada e as decisões passam por várias camadas de aprovação. Aqueles que têm o poder de aprovar ou rejeitar propostas podem encontrar prazer em exercer esse poder, muitas vezes sem considerar plenamente as consequências de suas ações para a inovação e o crescimento.
No contexto do empreendedorismo, onde a rapidez e a flexibilidade são essenciais, o prazer de dizer “não” pode ter um impacto negativo significativo. Empreendedores são, por natureza, inovadores e tomadores de risco, e um ambiente que favorece o “não” pode desencorajar a experimentação e a tomada de riscos calculados. Isso pode levar a uma cultura de medo e conservadorismo, onde o potencial para novas ideias e abordagens é severamente limitado.
É crucial que as organizações reconheçam e abordem a influência do ego nas decisões de negócios. Treinamento e desenvolvimento de liderança podem ajudar a mitigar o impacto negativo do ego e promover uma cultura de abertura e colaboração. Além disso, processos de tomada de decisão transparentes e justos podem reduzir a tendência de usar o “não” como uma ferramenta de poder, incentivando, em vez disso, uma avaliação mais equilibrada das propostas e ideias.
Em última análise, para que o empreendedorismo prospere, é necessário um ambiente que valorize a contribuição de todos e que esteja aberto à inovação e à mudança. Isso significa superar a burocracia excessiva e o ego que pode sufocar o potencial empresarial e criar um espaço onde o “sim” é tão poderoso quanto o “não”.
O autor é empresário com 30 anos de experiência em associativismo. Formado em Filosofia e Administração