Dois grandes problemas


Gilmar Denck
A economia e o mercado são temas complexos e desafiadores, que exigem conhecimento, raciocínio e análise crítica. No entanto, muitas vezes não temos a capacidade ou a disposição para entender esses assuntos de forma objetiva e realista. Preferimos nos basear em nossas crenças, desejos e emoções, que nem sempre correspondem à realidade. Isso nos leva ao primeiro grande problema: a ilusão econômica.
A ilusão econômica é a tendência de interpretar a economia e o mercado de acordo com nossas preferências pessoais, ideológicas ou políticas, ignorando ou distorcendo os fatos, as evidências e as teorias. Por exemplo, podemos acreditar que o mercado é um lugar justo e fácil, onde todos têm as mesmas oportunidades e recompensas, ou que o mercado é um lugar injusto e difícil, onde os poderosos exploram e oprimem os fracos. Essas visões simplistas e polarizadas nos impedem de compreender a complexidade, a diversidade e a dinâmica do mercado, que envolve fatores como oferta, demanda, concorrência, inovação, regulação, instituições, cultura, etc.
O segundo grande problema decorre do primeiro: a dependência política. Como não conseguimos entender a economia e o mercado de forma adequada, ficamos inseguros e ansiosos diante da incerteza e da instabilidade. Buscamos então alguém que nos proteja, nos oriente e nos salve dos perigos e das dificuldades. Esse alguém pode ser um político, um partido, um líder, um movimento, um grupo, etc. Esses agentes políticos se aproveitam do nosso medo e da nossa ilusão, e criam narrativas que nos atraem, nos seduzem e nos manipulam. Eles nos prometem soluções fáceis, rápidas e milagrosas, que geralmente envolvem a demonização, a culpabilização e a eliminação dos outros, que são vistos como inimigos, adversários ou concorrentes.
Essa dependência política nos torna mais vulneráveis, mais passivos e mais intolerantes. Perdemos a capacidade de pensar por nós mesmos, de questionar as informações, de dialogar com as diferenças, de cooperar com os semelhantes. Nossos debates se transformam em brigas, nossas opiniões se transformam em dogmas, nossas paixões se transformam em ódios. O resultado é um cenário de conflito, de corrupção e de miséria, que pode até mesmo levar à violência e à guerra.
Como superar esses dois grandes problemas? Não há uma resposta única ou simples, mas há alguns caminhos possíveis. Um deles é a educação econômica, que visa desenvolver a capacidade de compreender, analisar e avaliar a economia e o mercado de forma crítica, ética e cidadã. Outro é a participação política, que visa exercer os direitos e os deveres de cidadania, de forma consciente, responsável e democrática. Ambos os caminhos exigem esforço, estudo, reflexão, diálogo, respeito, tolerância, solidariedade, etc. Não são fáceis, nem rápidos, nem milagrosos, mas são necessários e possíveis e este deve ser o ambiente e a cultura de uma associação. Associar é o caminho. Vamos trilhar.

O autor é empresário com 30 anos de experiência em associativismo. Formado em Filosofia e Administração

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