Gilmar Denck
De modo geral, as eleições são um jogo de sedução e todos se iludem, porém ilude-se mais aquele que acha que a decisão do voto é um ato da individualidade. Entenda a seguir o porquê agimos assim e como deveríamos agir: A expressão “o canto da sereia” tem relação com jogos de sedução ou tentativas de iludir alguém. A sedução provocada pelas sereias era através do canto. Os marinheiros que eram atraídos pelo seu canto e se aproximavam o bastante para ouvir seu belíssimo som, descuidavam-se e naufragavam.
Existe uma coisa que se chama massagem. A massagem física é relaxante e adorável, e existe também a massagem no ego que tem o mesmo efeito sobre nós. Ao contrário, detestamos a verdade quando dita em nossa cara, pois ela causa desconforto quando não atende os nossos desejos íntimos. Por essas razões, adoramos ser enganados e detestamos a verdade, embora no discurso todos afirmem o contrário, que amam a verdade e detestam bajulações. Sério, todos somos assim. Nosso sistema político-partidário se alimenta desses sentimentos e nos entrega propostas que agradam os nossos ouvidos.
O jogo da eleição não passa do jogo da enganação. Somos seduzidos pelo canto da sereia, e este não tem lado ou partido, está em tudo e em todos. Se um pretendente for sincero, honesto e só falar verdades, será execrado pela opinião pública e, com toda certeza, será motivo de chacota na imprensa tradicional, e nos dias de hoje se transformaria em memes compartilhados aos milhões. Pense, mesmo que doa, pense.
Mas se somos assim, adoramos ser iludidos à espera de um salvador que resolva os nossos problemas sociais (é só para isso que existem governos) e acreditamos que o nosso voto é uma decisão individual de livre escolha (outra enganação, pois escolhemos os escolhidos pelos partidos), como poderemos chegar a um nível ideal de democracia (onde o poder emane do povo, tal qual preconizado na constituição, aliás muito bem colocado no início da carta magna para nos enganar)? Existe um caminho, e este caminho é a própria democracia.
Precisamos inicialmente entender que a democracia é o músculo do tecido social, e exatamente igual aos músculos de nosso corpo que precisam ser alimentados, hidratados e exercitados para se fortalecer, a democracia demanda de alimentação e muito exercício, porém como é um músculo social só podemos fortalecê-lo exercitando juntos, no coletivo. É físico, músculos não utilizados ou não exercitados atrofiam e são substituídos por células mortas e nefastas (câncer). Isto vale para o seu corpo e para a sua sociedade. O princípio é o mesmo.
Para escolhermos governantes com competência e seriedade necessária, precisamos exercitar a democracia (a eleição é apenas o jogo). Muito treino e muita alimentação precedem o jogo. Na democracia, precisamos exercitar todos os dias, e o alimento que a sustenta chama-se participação. E não se iluda, participar de um partido é apenas parte do jogo, a preparação é participar da sociedade civil organizada. Este é o caminho. O programa Associar é uma das formas de resgate desta organização. Alimente a democracia, se prepare para o jogo. Participe. O caminho existe. O caminho é Associar. Vamos trilhar.
O autor é empresário com 30 anos de experiência em associativismo. Formado em Filosofia e Administração