A vida é como fazer pão

Gilmar Denck

A vida é como fazer pão. Para começar, você precisa de boas sementes e um bom solo. Precisa semear e agradecer a Deus pelas chuvas na medida certa. Esperar florescer e quando maduram colher. Os grãos colhidos devem ser beneficiados passando entre cilindros para separar as camadas do núcleo até a casca, passando então por peneiras que separam a parte mais rica em glúten (núcleo) da parte mais rica em fibras (casca), ambas com seu valor específico. Assim são as pessoas, devem passar pela peneira, não para serem expurgadas, mas apenas para separá-las por valor agregado.
De posse da farinha dos grãos, mãos habilidosas (conhecimento e amor à arte) inserem ingredientes combinatórios, sal, leveduras e água para formar a massa do pão. Aqui é necessário “arrebentar” os grãos do trigo. Aquilo que a olho nu parece apenas pó é na verdade uma poderosa cápsula cujo interior abriga um grande número de componentes que após libertados produzem mais de 144 reações químicas diferentes, do nascer com a água misturada até o resfriar após o processo de desidratação da massa, o assar.
Para se obter o melhor resultado é necessário arrebentar o máximo possível dos grãos para que liberem todos os ingredientes e adquiram a força necessária para enfrentar a pressão do processo. Aqui estão duas formas combinadas de quebrar a resistência do grão: a hidratação e a força física. É necessário irrigar a farinha e atribuir pancadas para que estas se misturem.
O processo tradicional ensina inclusão de média 60% água e até 15 minutos de pancadas (manual ou mecânica). Aqui não há espaço para compaixão. Tem que bater forte. Similar ao que a vida faz com os mais fortes.
Outro processo mais lento é a inserção de até 80% de água. Uma hidratação mais expressiva impedindo a aplicação de força no batimento o qual é substituído por uma fermentação mais lenta provocada por diversas dobras de hora em hora. Aqui a força física dá espaço à paciência e à persistência. Qualquer semelhança com a capacitação das pessoas não é mera coincidência. É pura física quântica.
Após passar pelo estresse das pancadas, a massa deve receber o merecido descanso (descanso semanal remunerado no mundo corporativo) para recuperar as forças para só então receber a modelagem (a forma desejada), para na sequência entregar ao trabalho das leveduras que entram em ação produzindo o gás carbônico que vai oferecer leveza, palatabilidade e muito sabor ao produto final.
No processo de fermentação (produção do ambiente interno do pão) devemos respeitar o tempo ideal, pois se acelerar pode arrebentar e perdermos tudo com a explosão da cadeia de glúten. Se o processo for lento pode encascar (forma-se uma casca dura, semelhante a algumas pessoas) que impede o crescimento do todo. Portanto temperatura adequada, frio (ninguém trabalha, nem o fermento) ou calor (trabalham demais no início, mas o cansaço vence antes de terminar a tarefa) se não controlados podem pôr a perder todo o processo.
No ponto ideal, quando a produção do gás carbônico atinge seu ponto ideal passamos para a desidratação (forno) onde na temperatura correta (180°) a maioria das reações químicas acontecem firmando verdadeiras cadeias de cor, essências e sabores ao mesmo tempo que desidrata a massa até o ponto torná-la mais palatável.
Todo o processo segue rigorosamente algumas leis físicas (conhecimento) e segue um ritual de sequências com tempos predeterminados pela natureza sobre os quais não temos poder para intervir. Portanto, sabedoria e paciência continuam sendo os principais ingredientes humanos que se misturam aos diversos componentes do trigo para formar o mais poderoso e maravilhoso alimento produzido pela humanidade, vossa excelência o Rei Pão.
Nossa vida pessoal, em todos os seus aspectos, bem como nossa vida profissional, segue o mesmo padrão, precisamos apenas entender o processo e respeitar as leis do universo. Pão é delicioso, viver também é.

O autor é empresário com 30 anos de experiência em associativismo. Formado em Filosofia e Administração

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