Gilmar Denck
Júlio Cesar percebeu que amamos a democracia, mas no fundo queremos mesmo é um herói que assegure o pão e o circo.
Talvez toda essência do problema esteja em não entendermos o que é democracia. Sabemos que é o poder do povo, mas entendemos o conceito de democracia? Talvez para falar sobre democracia seja mais fácil o que não é. Tem muita gente que acha que democracia é o processo eleitoral, não é isso, o processo eleitoral faz parte da democracia.
Outros entendem a democracia como a interdependência dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, como se a representação máxima do povo estivesse preservada por poderes independentes. Sim e não. Sim, isso faz parte da democracia, mas não é a democracia.
A representação do poder do povo é a essência, mas de que forma isto se dá? Nós elegemos e eles nos representam, damos esse poder e aí começa o problema. Elegemos um representante, não transferimos uma responsabilidade, a nossa vida, construção de um mundo, para determinadas pessoas, como se essa responsabilidade fosse terceirizada. Este pode ser o problema. Até porque o candidato é eleito para quatro anos, então ele tem uma responsabilidade limitada, e nossa vida é para quatro anos?
Outro fator é que os eleitos não são eleitos diretamente, nós escolhemos partidos. Se olharmos, mais de 80% do Congresso não foi eleito diretamente pelo povo, não tem sua representatividade legitimada pelo voto direto, mas sim tendo participado de um processo onde os partidos tiveram êxito e alavancaram os candidatos aos cargos.
A democracia é, acima de tudo, um conflito, uma tensão entre a liberdade e a igualdade. Preservar o direito de todos, ou da maioria, isto é igualdade. E a liberdade é podermos fazermos isto. Isto é a democracia.
Assim que há um conflito, a democracia é uma possibilidade, não uma garantia. Quando falamos em igualdade falamos em uma sociedade igual, mas a sociedade é desigual porque é formada por castas, onde se formam oligarquias que, de forma ou outra, acabam ocupando e dominando o espaço eleitoral. Então temos democracia na eleição? É uma dúvida a ser respondida.
Um bom exemplo de democracia é o sistema cooperativo, quando ele tenta equilibrar as forças da produção, do capital. Toda vez que a cooperação equilibra a força do capital ela está sendo democrática. Mas quando o capital se sobrepõe e se coloca em um modelo de meritocracia absoluta, ele acaba criando diferenças. Aí não temos a participação dos mais fracos e não se tem uma democracia de fato.
Assim como a economia é a essência da sociedade, os ditames do poder acabam se dando por meio econômicos. Logo, quanto mais poderoso economicamente, mais politicamente poderoso é um agente. Isto fere os princípios da democracia, onde, em síntese, seria o poder da maioria, do povo, que por sua vez é formado por uma mescla de todas as classes, dos poderosos aos menos poderosos, dos intelectuais aos menos intelectuais, de todas as classes e bandeiras. Desta forma, a democracia pode ser vista como uma luta constante, do poder do povo contra o poder econômico.
Na política, minorias se unem para enfrentar o poder dos imperialistas, criando uma espécie de poder paralelo, onde ataca-se o poder criando outro, o que também não se resolve.
Talvez o entendimento perfeito de democracia aconteça quando entendermos que é a participação de todos no todo. Quando todos entendermos que devemos participar, influenciar – e veja você, até votar – essa liberdade será preservada, para que todos possam participar. Isto é democracia.
Mas é muito mais fácil transferir a culpa, terceirizar a responsabilidade do que assumi-la. E o modelo eleitoral busca o mesmo que o Império Romano: deixa comigo que eu resolvo, basta que você vote em mim. Transferimos esses resultados que nunca teremos, porque não há como transferir responsabilidade sobre a nossa existência. E os arranjos são apenas embustes daqueles que assumiram o poder e têm que dar alguma resposta que nunca terão. Este é o pão e o circo.
É isso que as eleições trazem. A democracia seria participar delas, participar das entidades, e durante todos os dias, em todos os meses, estar participando de todas as discussões, junto aos eleitos e às empresas, tal como patrão ou empregado, cada um na sua responsabilidade, construindo um mundo melhor. O caminho existe, o caminho é Associar, vamos trilhar.
O autor é empresário com 30 anos de experiência em associativismo. Formado em Filosofia e Administração.
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