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A governança em entidades associativas

É comum perceber nas entidades uma certa confusão na aplicação dos órgãos da gestão da entidade. Como exemplo do que estamos falando é comum na maioria das entidades chamar de núcleo todo órgão que reúne um grupo de empresários. Talvez para dar volume ao programa Empreender, ou ainda, para poder receber verbas subvencionadas do Empreender competitivo da CACB. Não sei, só sei que vejo vários órgãos sendo chamados de núcleos quando na verdade não são núcleos, ao menos não na concepção que deveriam existir.


Há ainda aquele efeito de entidadelização que já tratamos anteriormente que comumente transforma núcleos em associações.
Há também temas complexos que afetam a lide empresarial, fazendo os empresários acordarem e buscar a força do associativismo para atribuir força na resolução do problema, o que de um jeito ou de outro sempre tende a criação de um núcleo ou quando pior de uma entidade.
Não sei se é ego de algumas lideranças ou puro despreparo para lidar com assuntos solidários. O que se resolve com muito mais facilidade instalando apenas um comitê temático temporário e com finalidade específica acaba se tornando uma associação que passa buscar estrutura e associados para se manter, e pra que? Eu não sei.

Para tentar entender a estrutura da sociedade e as relações entre as funções sociais da empresa, do governo e das entidades vamos avaliar cada um dos órgãos relacionados ou existentes dentro de uma estrutura associativa empresarial, são eles:
Assembleia, diretoria, diretoria executiva, diretoria institucional e diretoria representativa, conselho representantes, conselho superior, conselho desenvolvimento lideranças, comitês temáticos, conselhos setoriais, conselhos estratégicos, câmaras de desenvolvimento (núcleos) setoriais e multissetoriais, conselhos municipais, conselhos desenvolvimento (ex Cdepg e territorial).


Antes iniciar a reflexão sobre a função de cada órgão faz se necessário entender alguns pontos de extrema relevância: não podemos esquecer nunca dos três princípios do associativismo, liberdade (todos estão ali livremente), democracia (todos têm direito a opinião e à influência) e solidariedade (todos estão ali para auxiliar a comunidade). Depois temos de lembrar que a atuação dentro de qualquer um dos órgãos de governança da entidade devem sempre estar sob a luz do propósito, ou seja, direcionados à função social da entidade, para entender a missão e com ela corroborar integralmente. Assim será possível entender qual a função do órgão dentro da entidade, para compreender melhor cada um deles, vamos buscar entender: O que são e para que servem:
Associação empresarial: comumente chamada de Associação Comercial: reunião de empresários para promover o desenvolvimento local e a cultura associativa. Assembleia geral: reunião dos associados. órgão superior de deliberação dos rumos da entidade.


Diretoria: eleitos pelos associados para representá-los. Órgão deliberativo e executivo da entidade à qual compete cumprir e fazer cumprir o estatuto. Diretoria executiva: instituída pela presidência ocupa se com a gestão da entidade em seus aspectos legais, financeiros, patrimoniais, gestão de recursos e de pessoas, planejamento estratégico, orçamentário e comunicação.


Diretoria institucional: ocupa-se dos assuntos transversais referentes a função social da entidade que afetam o desenvolvimento econômico local, tais como: políticas públicas, assuntos comunitários, responsabilidade social, associativismo, fomento, comércio exterior, cultura, planejamento urbano e relações institucionais.

Diretoria representativa: representa os conselhos setoriais nos diversos setores econômicos tais como: indústria, agronegócio, serviços, comércio, saúde, transporte, meio ambiente, educação, turismo etc. A esta diretoria compete a busca de ações para promoção e desenvolvimento de todos os segmentos econômicos a ela relacionados.


Conselhos: cabe aos Conselhos promover debates sobre os objetivos da entidade, para estimular a prática da tomada de decisões em grupo (colegiadas), descentralizando o controle e o poder, estimulando a democracia plena. Além disso, o órgão deve estabelecer diretrizes para um planejamento estratégico influenciando em seus rumos e validando sempre junto aos diretores da entidade. Assim na organização de uma entidade empresarial é importante a criação, manutenção e desenvolvimento de conselhos como exemplos abaixo:

Conselho superior: formado por ex-presidentes da entidade, tem como função orientar a diretoria na sua administração, fiscalizar o cumprimento de regras estatutárias, e influenciar na direção do planejamento estratégico.
Conselho representantes, órgão fiscalizador, representa o associado e seus interesses. Deve preferencialmente representar todas as classes econômicas existentes no município. Acompanhar as finanças da entidade. Opinar sobre as reformas estatutárias, regular e presidir os processos eleitorais da entidade. Acolher ou promover assembleias gerais quando necessário e anualmente para prestar contas aos associados.

Conselhos desenvolvimento lideranças: de vital importância para o sistema deve ser instituídos com foco principal para o desenvolvimento de novas lideranças para que ocupem no futuro cargos eletivos na sociedade ou na própria entidade e assim o façam dentro dos princípios do associativismo e dos anseios empresariais. Preferencialmente constituído por representantes de todos os segmentos econômicos, se subdividem em conselho do jovem empresário e conselho da mulher empresária. Além do desenvolvimento de lideranças, devem se ocupar com realização de projetos de fomento e promoção do comércio local, além de envolver se em todas as matérias envolvidas na diretoria institucional.

Comitê temático: também denominadas de câmaras técnicas. Os Comitês, como órgãos consultivos, possuem funções técnicas que têm por finalidade tornar a atuação do CONSELHO mais eficiente, potencializando as discussões estratégicas com recomendações fundamentadas, auxiliando no desempenho das funções legais e estatutárias da entidade e seus conselhos.
Núcleos setoriais ou multisetoriais: na ACIPG adotamos a denominação de câmaras setoriais de desenvolvimento do segmento. Eles são formados por empresários de um mesmo segmento (setorial) ou empresários de vários segmentos (multisetoriais) que se encontram periodicamente para discutir problemas comuns e buscar soluções conjuntas, com apoio de um Consultor (na ACIPG adotamos a presença de um customer success, para ocupar se com o crescimento econômico dos envolvidos). A denominação Núcleos faz parte do programa Empreender, um programa da CACB – Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil, nascido em Santa Catarina, posteriormente disseminado em todo o Brasil pela CACB com apoio do Sebrae.


Coordenadorias das associações: na nossa região temos instituído a CACICPAR (coordenadoria das associações comerciais industriais do centro do Paraná). Nosso estado possui 12 coordenadorias que compõem o sistema Federação Faciap. O que é uma Coordenadoria? É uma entidade representativa das Associações Comerciais. É entidade aglutinadora de ideias, ações e pessoas; é ferramenta da transformação e da prosperidade; é entidade impulsionadora de desenvolvimento regional.


Consiste basicamente em: representar e defender os interesses das associações da região de atuação; atuar como ferramenta de reivindicação política regional, promover parcerias estratégicas, alinhar interesses políticos e privados dos empresários da região, pugnar pelo desenvolvimento regional, a acima de tudo atuar como “ligação” entre as aces e também com outras entidades.


Federação (Faciap) federação das Associações comerciais empresariais do estado do Paraná: tem como missão declarada defender os interesses empresariais, ao promover o desenvolvimento sustentável das associações comerciais e do sistema associativista, com solução em produtos e serviços, contribuindo para a competitividade do estado do Paraná. E tem como papel preponderante agregar, representar e defender os interesses das Associações Comerciais, promovendo estas como instrumentos para o desenvolvimento econômico e social, objetivando a constante criação de fortalecimento de seus associados.

BCF base centralizadora da Faciap: criada em 2012, é um bureau de proteção do crédito como o Spc e a Serasa, que hoje são parceiros da BCF. Criado pela contestação de nossa federação quanto a privatização do nosso extinto Seproc. Único estado a instituir e manter seu próprio banco de dados e protegendo uma das mais poderosas ferramentas de vendas de seus associados.


Confederação CACB: Confederação das Associações Comerciais do Brasil. A Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB) é formada por 27 federações, representantes de cada um dos estados, que agregam 2.300 associações comerciais e empresariais que associam, por adesão voluntária, mais de dois milhões de empresários em todo o país, pessoas jurídicas e físicas, de todos os setores da economia.
A CACB é uma organização multissetorial, representa e expressa a opinião independente de empresários do comércio, indústria, agropecuária, serviços, finanças e profissionais liberais, de micro, pequenas, médias e grandes empresas.


Função conselhos municipais
Da mesma forma que o terceiro setor busca na governança a assertividade de ações que nos levem ao desenvolvimento, o poder público utiliza se de sistema de governança similar para distribuir o poder e dividir tarefas com a comunidade, fazendo se valer de conselhos municipais em todas as áreas da gestão pública. Formado em maioria por representantes da sociedade civil organizada e por técnicos do setor público da área de atuação de cada conselho, buscam a orientação técnica que visa abastecer o gestor público de informações embasadas e seguras para a tomada de decisão. O bom funcionamento destes conselhos atribui qualidade e segurança à gestão pública, além de ser uma das melhores formas de praticarmos a democracia em sua essência, opinando e influenciando o poder instituído quanto aos rumos da nossa sociedade. É imprescindível para toda entidade buscar pessoas capazes e conhecedoras das funções sociais da empresa e da entidade para fazer parte e atuar ativamente nestes conselhos. Imprescindível também a entidade se ocupar dos assuntos de competência destes conselhos, de forma construir opiniões colegiadas e tecnicamente embasadas para influenciar na gestão pública.
Tenho visto muitas entidades subjugarem a participação ativa nos conselhos e utilizarem se do expediente da força da comunicação via imprensa local para influenciar e impor suas opiniões. Acredito na força da imprensa e da opinião pública, porém este é um subterfúgio comum na política partidária e foge ao longe dos princípios democráticos que pregamos em nossa constituição.

A governança é o primeiro passo ou condição sine qua non para que uma entidade funcione dentro dos seus objetivos de desenvolvimento local. A falta de uma governança estruturada ou a falta de importância atribuída por seus diretores e associados podem levar as famosas gestões do achismos, onde muitas pessoas capazes e competentes em seus ramos de atuação assumem uma liderança com suas opiniões pessoais, dirigindo a entidade sob a égide de suas convicções, o que nos leva a depender de algumas lideranças específicas e pela aparência de uma ordem mais ou menos agradável, nos faz acreditar que estamos cumprindo a missão, quando na verdade estamos apenas mostrando serviço e resultados muito aquém do que a força do associativismo é capaz de promover.
Profissionalizar a gestão de uma entidade tem pouco a ver com contratação de experts ou consultorias da área de gestão empresarial, mas muito a ver com preocupar-se com a organização da governança do sistema.
Muitas entidades, senão a maioria, alegam falta de estrutura física e financeira para adequar suas entidades num sistema de governança ideal, transformando a entidade num pequeno escritório de serviços ao associado e quando muito se colocam como oposição ao governo municipal alegando suas funções sociais de defender os interesses empresariais.

Sim, o financeiro leva a uma estrutura fraca, mas a inteligência pode suprir esta carência. Nosso sistema está organizado em coordenadorias e assim a governança das entidades podem facilmente organizar a governança de sua entidade junto a coordenadoria local, associando-se às entidades circunvizinhas. Vendemos associativismo, mas não fazemos associativismo.
Cada entidade em nome de sua autonomia busca sobreviver sozinha, quando na verdade quando entender que a soberania de qualquer entidade pertence única e exclusivamente a assembleia de seus associados, perceberá que colaborar e dividir tarefas com outras entidades não significa perda de autonomia. Muito pelo contrário, significa ampliação do poder e da representatividade.


O autor Gilmar Denck é empresário com 30 anos de experiência em associativismo. Formado em Filosofia e Administração

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