Bem, a esta altura, você já deve ter refletido bastante sobre a gestão da tua empresa, da tua entidade e até mesmo sobre a gestão da tua vida. Quando se fala em gestão se fala em como refletir, entender e aplicar da forma mais produtiva os recursos disponíveis, definindo a energia necessária e adequada para que não se percam recursos e não se demande energia na direção errada, e assim perceber que mesmo com muito esforço, muita energia e muito trabalho a linha de tendência não se alteram. Gestão é acima de tudo um trabalho de muita reflexão.
O genial Drucker afirmava que o futuro pode ser planejado. Na frase dele dizia que a melhor forma de prever o futuro é planejá-lo. Ele nitidamente estava falando da linha de tendência. E mais profundo ainda quando ele exorta para começarmos pelo porquê, e nos convida a talvez maior reflexão de nossos empreendimentos: “qual é o nosso negócio?”. Com esta pergunta Drucker acreditava poder fazer com que empreendedores refletissem sobre seus negócios, e na busca pela resposta encontrassem o entendimento que os levaria a definir todos os meios, processos e caminhos para se chegar ao resultado, definindo assim o seu futuro, ou melhor, o resultado esperado no futuro.
Ações sem planejamento não passam de desejos insanos e de consciência equivocada de que todo trabalho produz resultados positivos. Toda ação gera uma reação, mas se ela for colocada em prática sem as reflexões devidas o resultado que por certo virá, pode não apontar para cima na linha do tempo, mesmo quando no curto prazo possa estar mostrando belos resultados. acontece muito nas empresas, na política, nos governos e até mesmo nas entidades. Se valerem de resultados imediatos ou recentes para alavancar a imagem de um gestor, mas a verdade está na linha do tempo, portanto toda ação deve ser precedida de reflexões. Reflexão nada mais é que incomodar o pensamento, e para tanto é necessário formular perguntas espinhosas, que geralmente são difíceis de responder, mas que quase sempre contém a resposta que nos levará ao sucesso. Portanto, uma característica imprescindível ao gestor é a coragem, sem gestores destemidos, que não tenham medo de perguntas capciosas depende em essência todo planejamento.
Por outro lado, planejamento sem ação não passa de modelos de enganação. Para inglês ver. Não são poucas as empresas e instituições que ostentam maravilhosas obras de artes em seus halls de entrada com missão, visão e valores muito bem construídos no papel, mas que no fundo não passam disso. Um mapa à vista de todo mundo, mas como nele não está nítido o futuro, todo mundo rema com muito amor, muita energia, produzem bons resultados, e na maioria das vezes ninguém percebe que o navio não sai do lugar, ou no máximo está andando em círculos. E Olha, tem situações piores ainda, quando aparece nesta empresa ou entidade um consultor que olha a linha de tendencia e mostra as fraquezas é taxado de incompetente e tratam de eliminá-lo pois não faz bem ao ego da gestão nem da equipe ficar sabendo que o imponente Titanic está sem rumo.
Nas entidades especificamente as reflexões devem ser aprofundadas e buscar respostas sempre de olho nos princípios básicos da liberdade, da democracia e da solidariedade, para entender qual é o seu negócio.
Das muitas andanças tenho visto muita boa vontade na construção e na condução. E digo mais, é muita boa vontade envolvida, afinal as entidades são formadas essencialmente por voluntários que dedicam parte de seu valioso tempo em prol de uma causa solidária. Mas como diz o velho e bom ditado, “o inferno está cheio de boa vontade”, e essas apenas por si só não bastam, é preciso mergulhar nas reflexões. Mas cuidado, tenho visto a boa vontade deturpar a visão dos gestores. Muitos deles buscam entender e herdar a visão daqueles que o antecederam. É mais fácil e mais rápido pegar uma visão pronta, e como na maioria delas vem embaladas em formas belas de produtividade fica fácil embarcar. Muitos deles se valem da experiência de velhos colaboradores que se mostraram conhecedores da causa e das soluções, iludindo os gestores que deveriam refletir e mais ainda, deveriam olhar a linha de tendência e não resultados esparsos apresentados com propósitos obscuros recheados de egos e vaidades. Gestão é coisa séria. Deus nos permitiu influenciar na linha de tendência e assim definir o nosso futuro. Nos deu liberdade escolher caminhos e escolher a nossa vida, mas não há permissão nenhuma para maquiagens e devaneios.

Para Drucker, o ponto de partida é a essência do que vamos colher no futuro. Muitos sabem disso, e mesmo com muita boa vontade acabam formulando perguntas equivocadas as quais trarão respostas certas e com muita lógica, mas podem nos levar na direção contrária ou no pior dos cenários nos fará navegar em círculos. Te convido a refletir comigo, digamos que desejamos entender qual é o negócio de uma associação de empresários, e assim buscar algumas perguntas, o que deveríamos perguntar: vamos a algumas:
1 – O que nossa associação deve fazer pelos seus associados?
2 – Como devemos procurar, abordar o empresariado?
3 – Como nosso departamento de marketing deve divulgar nossos serviços? Como encantar? Como captar novos clientes?
4 – O que mostramos em nossa comunicação? Está atraindo novos associados?
5 – Como mostramos o associativismo?

Não sei você, mas olhando as perguntas vejo muita lógica e muita vontade de acertar, e veja que estas questões encontrei nas entidades que tive a oportunidade de conhecer. Na maioria elas respondem com muita eficiência e com muitos resultados financeiros para as entidades. Mas em essência poucas são as que provocam transformações perceptíveis nos segmentos em que atuam, transformando empresários e cenários econômicos. Mas porquê?

Lembra que já falei do Simon Sinek? Comece pelo porquê. Tenha coragem e pergunte porque a linha de tendência não está inclinada para cima. Reavalie o seu propósito para assim reavaliar o propósito da tua entidade. Entenda a função de uma empresa. Assim você entenderá que as perguntas acima estão totalmente desvirtuadas do propósito de uma associação. Vamos refletir sobre cada uma, me acompanhe:

1 – O que nossa associação deve fazer pelos seus associados?
Pergunta equivocada na essência. Uma associação não existe para fazer alguma coisa para seus associados. Quem produz é empresa. Elas devem fazer, gerar impostos, empregos e bens. A associação tem que transformar a realidade do empresário e do ambiente de negócios dele, fazendo com que ele se associe a seus “concorrentes” e juntos façam as mudanças necessárias, ou seja, no português bem claro. Associação não faz nada pra ninguém, são os associados que devem fazer por eles mesmos. A pergunta correta aqui seria: Qual o nosso papel enquanto entidade?

2 – Como devemos procurar, abordar o empresariado?
De novo, o mesmo erro. A Associação não tem produtos a oferecer (mesmo tendo em sua prateleira serviços com custos reduzidos pelos efeito associativo). É função e responsabilidade social do empresário desenvolver se é desenvolver sua empresa, portanto ele deve procurar a sua associação, integrar, influenciar e participar. Estamos invertendo a roda e agindo como políticos cobrindo os empresários de promessas e expectativas. E todo mundo sabe o resultado disso. Reflita: tua entidade está fazendo isso? Então olhe a linha de tendência de retenção de associados. Vai lá. Coragem. Olha e diga para você mesmo. Este é o nosso papel? A pergunta correta aqui seria: “como disseminar a cultura associativa entre os empresários?

3 – Como nosso departamento de marketing deve divulgar nossos serviços? Como encantar? Como captar novos clientes?
De novo, se a pergunta inicial foi mal respondida, o marketing apenas seguirá no mesmo caminho, e vai gastar tempo, energia e muito dinheiro para embalar produtos para “vender” aos associados, e se nossa função não tem nada a ver com vender o que o marketing está fazendo? A pergunta correta aqui seria: “como direcionar nossos canhões de marketing para os resultados que os associados estão promovendo sem suas empresas e em seus segmentos?

4 – O que mostramos em nossa comunicação? Está atraindo novos associados?
Comunicação é apenas uma das funções do marketing, mas em essência é neste departamento que deve morar toda a essência da entidade. Saber comunicar o que faz e como faz é a mais bela das artes humanas. Se sabemos quem somos, o que somos, saberemos mostrar isto ao mundo sem muito esforço, apenas permitindo que vejam. Quem gasta energia, tempo e dinheiro para mostrar são aqueles que não são, não sabem quem são e querem de todas as maneiras mostrar aquilo que não são. Típico da política partidária. A pergunta correta aqui seria: “como comunicar a nossa essência associativa ao mundo?

5 – Como mostramos o associativismo?
Se nas perguntas anteriores tua mente esteve presa em produtos e serviços, você não estará preparado para responder esta pergunta. Será necessário você se debruçar em reflexões. Volte a ler o primeiro capítulo deste livro. Leia Simon Sinek, entenda o porquê. Entenda o associativismo, a sua importância como terceiro setor. Entenda porque precisamos de um terceiro setor. Depois volte e responda a pergunta correta aqui: Como mostrar a importância do terceiro setor para a economia e a formação da sociedade, próspera, harmoniosa e feliz?

Enfim, para mim, eu começaria pelo porquê. Como disse Drucker, definir o negócio e como disse o Sinek, definir a razão do existir. Buscaria responder inicialmente esta pergunta: Como fazer o empresário conhecer o associativismo, refletir e participar?

Acredito muito mais do que pela minha experiência adquirida no meio, mas pelo amor que desenvolvi pela causa associativista que em responder adequadamente a esta pergunta, estaremos construindo a base da revolução silenciosa, mas eficaz da construção de um mundo próspero onde reina a paz e a felicidade. Muitos podem chamar isso de utopia, eu chamo apenas de consciência cidadã e responsabilidade social. O caminho existe. O caminho é associar. Vamos trilhar.

O autor Gilmar Denck é empresário com 30 anos de experiência em associativismo. Formado em Filosofia e Administração