Stephen Hawking, um dos grandes gênios da física e também da literatura foi simplesmente genial quando conseguiu resumir toda a complexidade do universo numa casca de noz. No seu livro que leva exatamente este título, O universo numa casca de noz, o gênio físico literário nos mostra a grandiosidade da mente humana, quando esta se propõe a compreender os fatos. O universo em toda a sua grandeza, magnitude e complexidade pode sim ser resumido numa casca de noz, desde que estejamos predispostos a entender e simplificar as coisas. De um modo geral, nossos mecanismos de defesa emocionais, nos levam justamente ao caminho contrário. O caminho dos fantasmas do nosso inconsciente.
Nossos medos, nossos traumas e nossas ignorâncias costumam nos trazer a mente situações irreais complexas e confusas que confundem o nosso discernimento, levando nos muitas vezes complicar situações aparentemente simples. Kierkegaard, já dizia, se queres viver em aflição, procure um proposito para a tua vida. Para ele a vida é apenas pura existência e subsistência, não teria um sentido maior, e a busca deste sentido nos levaria a uma angustia existencial nos deixando inquietos e até infelizes. Pode até ser que de alguma forma ele tenha tido razão ao afirmar que a causa de nossas angustias seja a busca de proposito para a nossa existência.
Questões filosóficas a parte, importante perceber que somos dominados pelas emoções e buscamos de uma forma ou de outra explicações e razões para tudo o que existe, entretanto ante nossa incapacidade de compreender o todo, refugiamo-nos em nosso intimo para buscar respostas plausíveis e confortáveis mesmo que não sejam providas de muita lógica, basta fazer algum sentido e me deixar confortável.
Pronto, nasce neste momento uma pequena semente de crença, e na soma destas crenças de nosso intimo se forma a nossa cultura e o nosso caráter, e também na soma das crenças coletivas se forma a cultura de um grupo ou comunidade. Desta forma podemos perceber que tudo o que existe não passa da forma como reagimos emocionalmente ante os fatos, ou seja, a vida é em síntese o conjunto de coisas que acredito que existam, na forma como acredito. Simples assim, diria Tolstoi.
Dentro desta lógica, podemos simplificar também a nossa visão sobre o todo, sobre a vida em todos os seus aspectos. Poderíamos, se predispostos a isso, e a exemplo do Hawking, simplificar toda a existência como um simples jogo de tênis de mesa. Se observado a lei física da ação e reação, na qual seu descobridor Newton afirmava que a toda ação corresponde a uma reação de igual intensidade, mas que atua no sentido oposto. A força é resultado da interação entre os corpos, ou seja, um corpo produz a força e outro corpo recebe-a.
Assim, podemos imaginar toda a complexidade dos anseios humanos e a vida na forma como acreditamos que ela seja resumida a uma mesa de tênis, onde tudo que existe só acontece por reação contra a ação que promovemos na mesma intensidade de força que aplicamos na ação inicial. Isto é logico e perfeito e explica de forma simples todos os acontecimentos e curiosamente explica também a falta de acontecimentos, ou seja, se não houver ação, se não houver força suficiente, não haverá reação.
Ora, tudo o que acontece na nossa vida é fruto das nossas ações, ou na pior das hipóteses, é fruto de nossa inercia ou fraqueza, pois se não está acontecendo da forma que espero, é sinal que a ação inicial não aconteceu ou não teve a força necessária para provocar uma reação.
Daqui podemos tirar duas lições: a primeira é perceber que somos senhores de nosso destino e este é apenas “reação” contra as nossas ações ou contra a nossa inatividade. Assim, de forma simples, o ato de existir se resume apenas a atenção, ou seja, precisamos atender e entender como as coisas reagem, como as pessoas reagem, como o universo reage. Se sabemos a reação, saberemos dosar os ingredientes e a força necessária para obter os resultados esperados.
A segunda, você pode estar se perguntando: como podemos explicar fatos e acontecimentos que impactam a nossa vida, mas não desejamos e não provocamos? Ora, aqui entra a famosa consciência social. Somos um organismo vivo e interdependente. A sociedade nada mais é que a soma de “eus”. Um palestrante amigo meu, Athos Sá, dizia que Deus, na grafia em português é exatamente como se escreve, a soma “De eus”, ou seja, a soma de um eu, mais outro eu, e outro eu e assim sucessivamente. Uma brincadeira semântica, mas pode trazer em seu bojo uma reflexão. Somos chamados, desejamos e dependemos de todos os eus que existem. Todos em sua significância percebida ou não, interferem e impactam na minha vida, assim como todos os meus atos impactam na vida deles. Não tem como escapar disso. Há quem tente escapar dessa teia e tente se isolar, mas pense numa vida desgraçada (sem graça) que se sujeita tal indivíduo.
Assim, como numa simples mesa de ping-pong, a vida individual e coletiva nada mais é que reações das nossas ações e omissões. Se a economia vai mal, é sinal que nossas ações coletivas estão estagnadas, se a política vai mal, é sinal que nossa participação está estagnada. A velha e boa desculpa de que não podemos mudar os outros, nem temos poder para mudar as coisas, não passa de mera desculpa para justificar única e exclusivamente as nossas preguiças.
Se vivemos num país democrático, podemos e temos o dever de participar, influenciar e definir os rumos. A economia é apenas o mecanismo onde podemos buscar a prosperidade, a qual pode nos trazer a tão desejada paz e felicidade, mas também ela não passa de uma simples reação a nossas ações. Prosperidade é a soma da produção dos eus que compõe o tecido social. Precisamos, portanto, unir os esforços, dividir as tarefas e associar os nossos eus, assim poderemos viver de eus, ou como Deus quer. O caminho existe, o caminho é associar, vamos trilhar.
O autor Gilmar Denck é empresário com 30 anos de experiência em associativismo. Formado em Filosofia e Administração
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